Pelotas Colonial

Interior. Viagem imprescindível. Busca necessária. Momento singular. Ingressar por caminhos outros, sendas que nos distanciam do comum, veredas que nos afastam do cimento e do vidro e que nos apresentam espaços de reflexão e bem-estar.

Espaços de estarmos em paz com nosso olfato, tato, e visão. Espaço de ver/verde. Céu e rio. Pedra. Espaços de pássaros e de risos.

Viagem para dentro. Para o fundo. Além da mera casca.

Caminhos de amoras silvestres, canaviais, labirintos em que nos perdemos com prazer. As vezes é preciso nos perdermos. Desembaralharmos, nos desenrolar das linhas e fios que nos transformam em marionetes, que nos sufocam e enforcam. A cidade é muito boa. Mas ela tem o dom de nos “enquadrar”, nos “conformar”. A cidade e suas vias movimentadas, seus prédios de distância e frieza. A cidade e sua conversa indiferente, seu lamento constante e seus afazeres sistemáticos.



A cidade, mesmo pequena como Pedro Osório, tem muito, ainda, desse espírito de cimento. O tempo é contado e medido. E dele somos funcionários.

Então é o momento do interior. Retiro. Possibilitar ao corpo sua própria alma. E a esta, o contato inusitado e sem cobranças com o corpo. O corpo próprio, como com todos os outros. Corpos que vemos sem ver. O corpo da árvore e seus braços que sustentam sombras, sonhos e vida. O corpo da pedra que teima e resiste e teima no tempo. O corpo insondável de todos os sons que nos passavam despercebidos e que agora são nítidos, palpáveis...

Foi o que fizemos. Propomos para nossas turmas da EJA e 71 , uma visita ao interior de Pelotas. No dia 11 de dezembro, subimos no ônibus e nos permitimos momentos inesquecíveis.

Final de 2010. Prêmio pelos esforços e suores.



O primeiro encontro: Marco Gottinari e o templo.

“Se a distância esta marcada, mudo o curso da jornada, sigo rios e caminhos...” Exatamente isso. É o próprio marco, em um trecho de sua música “Acordar” que nos diz, que nos indica a forma de ver e sentir as coisas. Se tudo já está visto, medido, determinado... devemos procurar outras formas de ver e sentir. Caminhos outros.

Sentados ao redor, sob um canavial ao lado da casa, ouvimos esta criatura singular nos falar de anjos e natureza. Fez-nos ouvir canções (de sua autoria) concatenadas com sua filosofia e forma de estar com o mundo. Natureza. Preservação. Paz. Verde. E caminhamos. Caminhamos muito, pelos caminhos dessa nova perspectiva de ver a s coisas. O Templo das águas. Pedra e água. Beleza em estado bruto. Força vibrante. Tenho na boca, até hoje, o sabor do suco de amoras silvestres e hortelã que nos saciou a sede depois das pernas tremerem pelas trilhas. Aroma que sinto na memória.



Mas tínhamos horário. Somos humanos e não conseguimos nos libertar de certas práticas que nos constituem. Pela janela do ônibus, vemos Marco e sua esposa nos abanando sorridentes. Naquela noite ele ainda faria um show em Pelotas. Marco é artista. Cantor dos bons.


Próxima parada: Cachoeira do Arco-íris.

Almoço e banho. Não exatamente nessa ordem. Piscina natural. Borboletas azuis, alturas assombrosas. Água gelada e poderosa. Purificação. Pedra. Muita pedra. O antigo moinho agora um bar. Janelas.

E o povo comendo. Pedras escorregadias, deslizes. Deslizar é preciso. Cair também.

Muita risada, os mais ousados na água, outros nem tanto no sol. E foto e mais foto. A imagem na memória.

Alguns valentes se arriscaram nas águas geladas que caiam da cachoeira. Outros se permitiram escalar as alturas das pedras. Outros, lá, tremeram.



Tudo isso em um único dia. Então lá fomos.


Última parada: Chácara dos Pinos.

Difícil encontrar. Lugar belo e amplo. Corredor de pinheiros, caminho imponente. No ônibus alguns “péssimos cantores” insistiam em animar a viagem.

Caminhada pelo rio. Pés descalços, areia. Sombras fantásticas. Jogo de futebol. Muita conversa. Mais fotos. Ainda mais fotos... fotos...

E a volta.

Trilhar nossos interiores é essencial...



Ronie Von Rosa Martins

Comentários

  1. Obrigada por permitir (re)fazer essas trilhas e caminhos em teu poético artigo.
    Boas férias!!!!!

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  2. Adorei fazer esse passeio na compainha de meus queridos colegas, foi um dia inesquecível!!!!!
    Alvina

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