Na montanha mais alta


NA MONTANHA MAIS ALTA

Dentre os maiores problemas enfrentados pela Educação, sem dúvida, a leitura seria apontada como o principal.
A leitura foi abandonada. Isolada nas classes escolares e reduzida a uma mera “leitura silenciosa” ou, com um pouco de otimismo, em leitura oral de redações.
O estudante não lê. Quando falo em leitura, não faço referência às leituras superficiais de manchetes de notícias em jornais ou nos “chats” na Internet. Mesmo não desconsiderando esse outro tipo de leitura, noto a ausência de um trabalho que estimule e possibilite ao estudante uma leitura mais consistente e natural. Fruição.
A imagem, como sabemos, de forma agressiva foi tomando espaços, invadindo lugares, se apossando da forma como as pessoas veem e interpretam as coisas, e a palavra foi reduzida a coadjuvante da imagem. Não é uma questão de precisarmos o valor maior ou menor da palavra ou da imagem, ou sua importância e relevância. O que, no entanto, não podemos deixar de perceber é a freqüente banalização da imagem e seu uso quase que meramente comercial e especulativo, e este desinteresse “profundo” pela letra e pela palavra.
Nas salas de aula o aluno não aprende a “ver” a imagem, mas concordar com ela, aceitar. A palavra e a frase são meros utensílios para garantir, de forma clara, o discurso dessa imagem, normalmente ligado aos interesses particulares de riqueza, fama e poder.
Já não se ouve a palavra do aluno. Nem a do professor. Já não são sujeitos, mas instrumentos para propagar o eco daquele outro discurso.
Não se instiga mais a sensibilidade ou o senso crítico, não pedimos para ouvir, não nos propomos a “dizer” longe desse discurso que formata e reduz todas as vozes.
Fazer o quê?
Sucumbir ao fatalismo?
O ato de pensar exige entendimentos, exige comparações, avaliações. O ato de pensar exige propostas de resolução a um problema definido, exige o risco de pensar, falar e dizer além do repetitivo discurso do rebanho.
E a leitura?
É exatamente ela, a leitura, que possibilitará abrir portas, dimensões, compreensões e inclusive dúvidas. O aprender não se faz sobre as certezas, pelo contrário, o aprender está intimamente ligado à dúvida, à curiosidade e à experiência.
E ler é isso. Ler é correr o risco. Afogar-se na palavra e na voz. Permitir-se ir aonde o corpo material não vai, ver, perceber, duvidar, questionar. Abraçar-se na experiência da transformação pessoal e social. Pois a palavra tem poder. A palavra é poder.
Então faço meus alunos lerem poesia.
Só isso?
Não. Tudo isso!
A poesia é perigosa. A poesia seduz, provoca, propõe jogos, zomba de nossas interpretações, nos exige pensar.
Mas o melhor de tudo. Ela exige, assim como a música, um tom. Um timbre. Um balanço. Ritmo. Ela nos faz cantar sem querermos. Ela tira sons de nosso corpo. Não somos nós que a declamamos, mas o contrário. É a poesia que nos toca. Em todas as concepções da palavra.
E é esse som. Esse tom da palavra, da sonoridade de nossas vozes é que proponho aos alunos.
Parece pouco. Mas a cada início de aula subimos na montanha mais alta e fazemos nossa voz ser ouvida. Tímida, assustada às vezes. Mas ali. Sendo ouvida, sendo escutada, tomando corpo e forma, força e coragem.




Professor Ronie Von Rosa Martins

Comentários

  1. É mesmo uma proposta arrojada professor! . Mas que sabemos vem frutificando.E a sua pessoa provavelmente inspira ,encoraja e estimula, desperta em seus alunos o gosto , o prazer da leitura ,pois é "sabido" que quando temos amor, quando vivenciamos o que pregamos, o que ensinamos,fazemos muito melhor....Sucesso professor!! saúde pra continuar nesta sua tarefa de semeador..abraço aos seus alunos que diariamente se atiram nesta aventura,nesta conquista e nesta construção do conhecimento..abraço forte....

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