Homenagem ao Amigo Orobaldo

Tenho na memória a imagem de uma escola. Uma escola outra. Outra época.

Tenho na memória rostos e palavras que estão só ali. Na minha memória. Realidade que teima em disputar espaço com essa outra. A atual. Não para comparar, medir, analisar. Mas para não morrer. Para não parar de existir.

Tenho imagens que resistem ao tempo. Será essa a função da imagem? Resistir? Trazer de lugares distantes as sensações e sentimentos que vivemos?

Pois nessas imagens que meu cérebro-coração guardam, uma é muito importante para mim. A imagem de uma criatura que caminhava livremente por entre as fronteira da realidade e da fantasia.

Um homem. Grande-pequeno homem. Nunca soube ao certo qual era o verdadeiro nome. Ele era algo tão grande e tão forte dentro da escola que sua aura transmitia alegria a todos. Professores, funcionários e alunos.

Eu o chamava de Arobaldo. Pequeno e simpático ser humano que com seu andar trôpego abraçava sorrindo cada professor que encontrava.

Ainda lembro de suas histórias e caretas. Sua gramática única. O Arobaldo conseguia ler cartas imaginárias; tecia fantásticas e mirabolantes histórias a partir de uma pequena folha de papel escrita encontrada no chão.

Carinhoso e atencioso com as crianças. Outra criança. Alma sempre infantil em um corpo já cansado. Mas sorridente. O sorriso de dois dentes mais incrivelmente belo que já vi. Na pureza. Simplicidade.

Arobaldo foi mais um de nós. Ele era tão parte da escola... Conhecido e querido por todo o bairro.

De bermudas e camiseta de física, ainda o vejo pelos corredores. Enrolando as palavras como só ele sabia, linguajar tão particular que ao pronunciar nossos nomes, outros eram criados. Éramos melhores em suas criações. Cada vez que o Arobaldo pronunciava nossos nomes em seu dialeto especial, era como se fôssemos recriados novamente em um misto de alegria e prazer. Mágica.

Arobaldo era mágico. E ninguém percebia.

Quando fazíamos nossas festas de confraternização o Arobaldo era figura certa. E gostava de um refrigerante...

Talvez fosse um anjo. Às vezes fico pensando... Seria possível?

Qual a explicação para uma criatura tão fantástica?

Arobaldo era um amigo. Arobaldo era o significado da palavra amizade. Pode parecer um exagero. Mas não é. Quem teve o prazer de sua presença sabe. Eu sei.

Quando a mágica acabou e ele foi brincar no céu, um pouco da alegria de todos nós foi com ele. E eu fui surpreendido por algumas lágrimas.

Nada mais justo que no dia em que a Escola Municipal Getúlio Vargas faz cinqüenta anos, homenagearmos esse homem. O senhor Arobaldo. Dignificar um ser humano que com sua simplicidade e simpatia, bondade e alegria fez parte positivamente da vida de todos que assim como eu viveram aqueles dias.

Arobaldo era especial? Sim, ele era muito especial para todos nós.

Um abraço, amigo.

Ronie Von Rosa Martins.